DESENLACE

E ela, bateu a porta do carro

caminhando apressada pela rua deserta...

E sua casa, que era logo ali na esquina,

ficou longe,

distante,

inacessível,

mal-assombrada,

engolindo a amada que desapareceu...

E a luz do poste, bruxuleante, tremeluzente,

que fora por tantas estações

testemunha ocular de nossos beijos e abraços,

naquela noite apagou-se, deixando a escuridão reinar.

E os céus se revestiram de um manto negro,

por onde passeavam sombras enigmáticas

de mistério e insegurança...

E eu, naquele carro solitário, me angustiava

na emoção de ainda sentir o perfume da amada

impregnando o ambiente, preenchendo-me as narinas

e propondo-me o doping, doping de amor...

E o carro, agora acionado, rodava leve, quase desgovernado,

pelas ruas desertas da cidade adormecida:

só eu me angustiava solitário na imensidão de uma cidade que não me vê!

E as lojas eram apenas vitrines decoradas de ilusão;

os edifícios, fantasmas agonizantes de esperança;

as igrejas, velhos prédios decadentes em que o amor não mais seria

celebrado visto que a amada arrebentara o elo...

E em cada semáforo aceso na noite,

a luz amarela que piscava insistente

me advertia acerca da possibilidade do amor:

- “Amor?...”

E os operários da noite que faziam a limpeza das ruas,

trabalhavam estrepitosos, tornando a sina diversão,

enquanto meu coração descompassado

caminhava para a célebre solidão dos rejeitados,

até que um pneu furou e tive que decidir:

- “Troco ou abandono o carro e vou a pé para lugar nenhum?”

Queria tão-somente encontrar um estacionamento

para meu coração largado na vida!

ALEX GUIMA
Enviado por ALEX GUIMA em 05/09/2007
Código do texto: T639551