SEM RUMO
Não sou o que não quis ser
Nem o que quis ser sou
Não sei se o que quis ser
É o que não quis ser
Sem querer ser o que sou
Visto que,
Não sou aquele que não quis
Nem aquele que quis sou
Sou o que sou:
Aquele que não quis e o que quis
Não sei o que sou...
Envelheci, deixando a vida passar
Como chocolate no vão dos dedos
De u'a mão que aperta.
Fui lambido pela vida
Jamais fui formatado
Em louça fina apresentado
Doce inteiro e decorado
Sempre fui fundo de panela
Raspado com voracidade
Regalo de criança
De sabor inigualável.
A onda encolhe, o mar estica
A onda encolhe, o mar estica
A onda encolhe, o mar estica
Num balouço interminável
Que vai, volta e não fica
Perdi-me em desenganos
Em planos de muitos planos
Com a certeza dos errados
Escondi minha incerteza
E gritei minha verdade
Num pedestal de palafita.
Agora, aquele que não perdoa
Com seu tic-e-tac infinito
- Vicissitude maldita!
Amarelou minhas fotos
Enrugou minha juventude
Tirou meu viço e coragem
Deixou meu corpo sem prumo
Cegou minha visão de futuro
Envasilhando em meu cérebro
Um vírus, chamado, sem rumo.