O ÚNICO HOMEM

Naquela hora havia uma flor
Entre a janela e a cachoeira
Pássaros voando e sorrindo
E a raça humana se matando
 
Os olhos que miravam o sol
Sabiam que detrás da xícara
Havia um vazio até à parede
E lá fora a cidade complexa
E a raça humana se matando
 
A caneta só queria o poema
Mas foi rejeitada ao chegar
Naquela casa o computador
A folha pautada descartada
Nunca se transformará mais
Em romântica carta de amor
 
Naquela hora havia uma flor
E lá fora bilhões de espectros
Dos que já foram humanos
Constroem um novo mundo
Só para continuar cultivando
Os seus crimes e seus medos

Naquela hora havia uma flor
E um silêncio cancerígeno
Dando vida ao poeta
O único homem que restou


 
Cláudio Antonio Mendes
Enviado por Cláudio Antonio Mendes em 09/10/2020
Reeditado em 09/10/2020
Código do texto: T7083775
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