Suplício

Amo-te em silêncio

...desses meus silêncios obtusos

Que inrrompem madrugadas.

Que dilaceram min'alma

Partem-me ao meio

como uma espada afiada

Optei pelo silêncio

Quando meu grito

Deixou de fazer sentido

Quando tornou-se mudo

Aos teus ouvidos.

Tornou-se suplício

Expressar o amor em versos

Calou-se a voz, diferida voz

Ecoou um pranto sentido

em minha ferida exposta.

Os poemas tornaram-se reféns

Meu versar, um réquiem

Uma prece sombria

Seca, sem vida...

Na surdina de mais uma

Entre outras noites perdidas.

Pra quem são meus versos?

Para a minha morte a esperar?

Ou jogados ao vento?

Bastou-me o tempo!

Congelei sentimentos

Calei meu pranto.

Escondi sob o véu do sorriso

meu olhar agora perdido

Em algum ponto de mim que jaz esquecido

Pois amar-te tornou-se um suplício

Sem volta, sem desígnio.

Deixo o pranto morrer

Para que a poesia possa em mim renascer

Infinitas vezes com mais ardor

Sem o nefasto dissabor que aos meus versos se acorrentou.

Amo-te em silêncio

Mas decerto que a poesia

Seja meu grito

Sem a mudez

Deste amor que tornou-se suplício.