Borboletas mortas

Tenho sentido o gosto ácido

Do refluxo que sobe a minha boca

Das palavras que não disse

Que ficaram estáticas, absortas.

As borboletas que voavam

Que no estômago causavam cócegas

Jazem putrefatas, enegrecidas

Causando-me essa sensação mórbida

Sinto o ar ausentar-se do peito

É como ouvir meu silêncio gritar

É como sentir a vida escapulir

Como se minha alma estivesse a rasgar

Mastigo esse sabor ácido, que queima

Consumindo como fel minhas entranhas

Um torpor prestes a explodir

De uma fúria e intensidade tamanha

Pobres borboletas, em contemplação

Que anunciavam o gozo, o riso

Chocaram-se contra a escuridão

Sucumbiram, perderam asas no vazio.

Ante a a fatídica convicção

Do tremor por dentro, agora frio

No breu que engole minhas palavras

Que em auto flagelação mendigo.

Sinto as palavras que calam

Tento em vão vomita-las

Sinto revolverem, lutarem

cadáveres de borboletas as sufocam.