À prova de quase tudo

O mundo é o mesmo, não mudou em nada.

Mas ainda assim estamos aqui, frente a frente

E se a perfeição do destino nos foi roubada,

Se ambos tivemos que nos virar, de repente

E aprender, bem ou mal a assimilar as porradas

Que os bandidos vieram e deram na gente...

Doeu, mas aprendemos. Sobrevivemos.

Nos tornamos capazes de pôr de lado esperança,

E até um pouco da fé nesse mundo selvagem

Mas soubemos proteger o nosso lado criança

Pra não tê-lo estragado, só de sacanagem

Por essa gente tão feia que sempre nos alcança.

Desiludiu, mas aprendemos. Sobrevivemos.

Encontramos falsos amores, casos e promessas

Fomos passados pra trás, subtraídos em valores

Repetimos sem conta: “não me venha com essa”

E descobrimos remédios para aliviar essas dores

E seguimos, pois ainda assim tínhamos pressa.

Enfrentamos, e aprendemos. Sobrevivemos.

Cada um seguiu para um lado, que mais conviesse.

Um tornou-se emissor de emoções, uma fonte

Outro, guerreiro defensor da razão, como prece.

Nos vimos no mesmo campo, no mesmo front

Em lados opostos, mas não inimigos, ao que parece

Lutamos (muito) para aprender. Sobrevivemos.

Hoje encontramos descanso nas cores de uma flor

Nos pequenos e doces prazeres dos tempos de paz

Almas cansadas, habituadas a todo tipo de dor

Recusamos os protocolos, e os códigos, não mais.

Nos achamos, nos reconhecemos em meio ao tremor,

E com o mundo girando, deixamos regras pra trás

Não jogamos, porque o jogo já não há

Não comparamos, pois a vida passa sozinha

Entendemos que há muito que esperar,

Mas que a vontade que de nós se avizinha

É o anseio de viver sem se preocupar

Se o que se aproxima é flor, ou erva daninha.

Sobrevivemos, à flor, e ao veneno.

Eu, Você, sobreviventes ao extremo.