Inda vai haver um dia bom

Inda vai haver um dia bom

Inda lembro daquele tempo.

Onde o que nos distanciava era o tempo,

Os afazeres,

A rotina.

Depois veio o prenúncio do mal.

Tivemos receio.

Nós abraçamos e fizemos a prece silenciosa:

Que esse mal não nos assole,

Já somos um povo tão sofrido.

E despedimo-nos.

Na certeza de nos vermos no outro dia.

Esse dia virou semana,

Que virou semanas,

Que virou mês,

Que tornou meses.

Inda lembro o toque suave da sua mão na minha,

Do seu rosto no meu,

Dos seus olhos penetrantes.

Os cheiros se embolando no nosso nariz,

Inda lembro da sofreguidão com que nos sentíamos.

O calor dos nossos corpos,

E tudo se tornou frio.

Hoje rogo pela nossa saúde e dos nossos.

Apenas é o que restou.

Não desejo te encontrar hoje,

Mas desejo que nossos caminhos ainda trilhem juntos um dia.

Choraremos algumas perdas,

Mas não desejo que um chore a perda do outro.

Que essa passagem do mal seja curta e leve.

Estarei aqui de alguma forma,

Caso eu permaneça,

Com as mãos estendidas,

Para que mesmo à distância…

Tu possas contar com um aperto seguro.

Inda sei que vamos penar.

Inda sei que vamos nos tocar novamente.

Inda tenho no peito o calor de felicidade de me saber querida,

E de saber que tu se sentes amado por mim.

Eis o momento de não soltar a mão,

Aquela mão que é invisível, mas sentida.

Rogo por melhores momentos.