Meditação Forçada

E lá foi a socialite para a Índia

Não bastava a cafeína

Nem o cão, cheio de frufrus

Nem as festas com cocaína

Não bastou posar para a Playboy

Nem ter vivido o hedonismo...

Nada impediu o vazio que corrói

E seu atual estado de egoísmo.

Entre uma compra e outra no shopping

Resolveu: vou partir pra Índia!

Lá eu vou encontrar com Deus!

O místico será meu anti-doping!

E assim sucedeu, partiu numa manhã

Com milhares de malas, cheias de panos

De bagagem de mão, uma esperança vã

E a firme resolução de cumprir seu plano.

Qual não foi sua surpresa, ao lá chegar,

Que estranho, que fedorento, que pobreza.

Apinhado de gente, pitoresco lugar...

E a dondoca já não tinha tanta certeza

De que era ali que realmente queria estar.

E seguiu, ao Ashram do mestre famoso

Na porta, belíssimos carros esporte

Os mais exclusivos, e de valor espantoso

De gente que queria entender vida e morte.

E ficou lá, se achando a iluminada

Na companhia de milionários culpados

Aprendendo a orar, gastando uma bolada

Deixando o mestre cada vez mais incensado.

Mas iluminação de verdade, ela conheceu

Em um passeio certo dia, desprevenida

No centro da cidade, imprevisto ocorreu

Precisou de um banheiro, (ou coisa parecida)

Indicaram uma casinha, suspeita então.

Sem vaso, sem descarga, sem vaidade

Quatro paredes, um buraco no chão

Pra fazer as suas tais necessidades...

E o papel, onde estava? Não tinha.

O costume local é usar a mão esquerda

E perto do buraco, um pote ou latinha

Onde limpa-se a mão suja de “mêr-da.”

Acabou ali, a graça da nossa amiga.

Seu encontro com Deus falhou.

Foi embora daquele país de formiga.

E pra lá, nunca, nunca mais voltou.