Vergonha e culpa

ele apontou para mim

o firme dedo indicador era uma arma

pegou-me de surpresa

em flagrante

andava eu tranquilo

observando árvores, montanhas, paisagens

o céu ainda azul, as vaquinhas lá longe

o susto foi grande e a ele não faltou perversidade

com olhar de águia má apontou-me sem dó

aquele dedo, um sujeito de estatura pequena, forte e torturador

sobrancelhas apertadas

testa grande e orelhas pontiagudas

balbuciou algumas palavras que preferi não entender

o seu veículo tomou velocidade

era como se todo o mundo estivesse me observando

o céu caiu. O chão tremeu

e com ele minha vergonha cresceu

o sangue tomou-me a cabeça,

fiquei verde, amarelo, vermelho em brasa

sem forças para o movimento derradeiro

por Deus o veículo do inquisidor de 6 anos tomou velocidade

ainda ficou no soslaio da perversidade

e devagar fui retirando o dedo do meu nariz

com uma bela e trabalhosa bolinha já feita.