BALTAZAR

BALTAZAR

Eu me chamo BALTAZAR,

e o AZAR, que há no meu nome,

deve ser causa do azar

que me persegue e consome.

Sou dos pesados o rei.

E, para tal vos provar,

eu apenas citarei

o caso, que entro a contar:

Minha vida de solteiro

já me andava acabrunhando.

Sem família e sem dinheiro,

vinha o tédio me matando.

E uma pequena exemplar,

que tivesse alguma coisa,

procurei, e, após a achar,

tomei-a por minha esposa.

Antes, porém, do casório,

seu papai perdeu o que havia,

inclusive um bom cartório;

mas de tanto eu não sabia.

E, na noite em que casou

este vosso camarada,

minha noiva confessou

que já não tinha mais nada...

E aqui estou desiludido,

como ninguém nunca esteve.

E como tenho sofrido!

Pra que minha mãe me teve?

Não devia ter-me tido. (*)

Autor: Nestor Tangerini

O Espêto – pág. 8 – Rio, 15 de Abril de 1947

(*) Os 5 versos finais foram acrescentados, posteriormente, pelo próprio autor.

Bergamota
Enviado por Bergamota em 27/12/2017
Código do texto: T6210073
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