A DENTADURA

Vou lhes contar uma história

E o pior que é verdade

Inda tenho na memória

Desde minha mucidade

Eu trabaiava na roça

Daqueles da mão bem grossa

Mas a saúde era fraca

Por pura infelicidade

Cum 15 anos de idade

Cumecei usar chapra

Chapra é uma dentadura

paricida cum pente

Mas a minha era piquena

Pois tinha só dois dente

E pra eu me acustumar

Tive até que rezar

E fazer muito exercíço

Mais vivia toda hora

Empurrano ela pra fora

Paricia mermo um víço

E o pior que a danada

Era tão sem garantia

Que sempre se quebrava

Quano mais forte eu murdia

Farinha, carne assada

Rapadura, panelada

Pé de galinha, e farelo

Isso essa fatalmente

Sempre me arrancava um dente

E eu ficava banguelo

Purisso já fico esperto

Depois que alguém me enrrola

E tinha sempre pur perto

Cumigo um tubo de cola

Carregava ele no boço

E na hora do aimoço

Que o dente se arrancava

Naquele desespero

Eu corria pro bãiero

E lá mermo colava

Um dia os meus amigo

Me convidaro prum bãe

E lá dento do açude

Foi um vexame tamãe

Inventaro de brincar

Um tá de toca, sei lá

Acho mermo uma friscura

Mais quano eu meiguei

Que abri a boca e fechei

Já tava sem dentadura

Ôiei purriba da água

Pensano que aboiava

Mais num é que me enganei

Pois a danada afundava

Mermo quereno ficar mudo

Eu gritei: para tudo

Não assãia

E meiguei pensano niss

Já pensou se caíss

Na boca duma pirãia

Mais probema foi de noite

Na hora que fui durmi

Era sempre o mermo sõe

Que meus dente ia cair

Na hora que eu bejei

A menina que sõiei

Que quiria namorar

O meu dente alí caiu

E a coitada ingoliu

Sem um menos mastigar

Quano acordei que cassei

Os meus dente e num ví

Aí pensei, hô danada

Será que ingulí

Num achei na minha boca

Nem dento da minha roupa

Nem em riba no colchão

Acindí o candiêro

Sacudí os travissêro

Tava imbaxo, no chão

E adipois de alguns dias

Já de tanta trapaiada

Pois num é que a bicha

Arresorveu ficar forgada

Aí sempre ela caía

Na hora que eu cuspia

Ou intão dava risada

Mais um dia eu ispirrei

Foi intão que avistei

Ela, lá no mei da estrada

E a veigõia maior

Num foi quano ela caiu

Foi quano eu peguei

Que todo mundo viu

Eu saí discunfiado

Alimpano ela do lado

Esfregano ela na roupa

Mermo caído no chão

Mas no outro quarterão

Butei de vorta na boca

Parece inté brincadera

Mais é tudo verdade

E o pior é que foi

No tempo da mucidade

Puriço você criança

Nunca tire da lembrança

Esse meu triste repente

Pois aconteceu cumigo

Puriço é que eu digo

Escove sempre os dente.

Poesia matuta

Ediglê Poeta
Enviado por Ediglê Poeta em 13/08/2018
Reeditado em 09/09/2018
Código do texto: T6417836
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