CONFIDÊNCIA DE ESPERMATOZOIDE

Sou espectro,

Mas sem séquito... A pele lívida

Faz contraste

Às minhas dívidas,

Meu desbaste. Como vento,

Mas não movo...

Meu testamento ?

Socorro !

Ùltimo da fila,

Piada na vila,

Não serei primeiro,

Não sou interesseiro.

Nada sou, pois sem amor-

E olha que falo fluente

A língua dos anjos !-

Assim expio, no calor,

às chamas que se sente,

De inferno, sim, eu manjo...

Não me acuse de arengas.

Economizo até nos verbos.

Vivo numa eterna perrenga,

De credores fiz-me servo.

O vil metal,

Oval, espiral,

Olho de redemoinho,

Alvo duras trevas

E no escaninho,

Boletos, levas e levas!

No dever, no haver,

Arvoredos ditam enredos.

Nada há de entristecer,

Não mantenho olhos quedos

Espectros são fumaças,

Bafejos na vidraça...

Não me venha com "seu" Freud,

Sou erro de espermatozoide.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 02/09/2019
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