De leite

Se és realmente de leite!

Não sei, hei de um dia descobrir.

Mas na ferroada que tine

Não será agora o momento

De tal averiguação

Começa leve a ponta do canino

E como espada fincada ao cérebro

Grito em desespero

Em vão, ele finge meu existir.

Um chá quente

Um bochecho de água morna e sal

Creme dental e lagrimas

Então mordo

Mordo o retalho,

A espuma

O travesseiro

E já sem vontade de chorar

Ainda desidrato em lágrimas

E ele, imóvel, deforma-me

O sono não existe

Ali naquele minúsculo quarto

Somos dois inimigos

Numa batalha perdida

Não consigo lutar

Assim, rompe a aurora.

É domingo, de cara cansada,

De pé frente a pia e espelho

Abro boca e te vejo

E encosto os dedos, e te apalpo.

Cai sobre pia, como um salto.

Morro de ódio

Ressuscito em alegria

Agora em enfeite

Eu na certeza que

Era dente de leite

Paulo Sergio Barbosa
Enviado por Paulo Sergio Barbosa em 20/09/2019
Reeditado em 21/09/2019
Código do texto: T6749699
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