INANIMADO

Não permitam mais que os sonhos vaguem e me divulguem como servo. Que se espalhem e me atrapalhem no que nego.

Olha horizonte carrossel, imagem polida de firmamento em várias cores. Não quero mais nada aqui, não ajudo mais o mau a sair, só eu quero sair daqui.

Tinha tempos, os de quem aqui não vinha ainda, que eu ainda não via, e caminhavam calor sem rosto... Esperando os passageiros de um trem que nunca vai passar. É com pressa, é com fé, é com todos, é sempre assim mesmo. Um pedaço sem vida, um nada aos pedaços e uma dor inexplicável arranhando até os cantos, me arrastando até um lado onde só os espelhos olham e os dedos ladram.

Eles sabem que os dados estão incorretos, eles viram que não sou eu quem os faz girar, eles têm certeza que um olhar só basta. Mas não vão corrigir seus erros. “Eles não erram.” Então gira carrossel, teus tripulantes não tem movimento, gargalha apenas por combustível, um adeus com saudade desprezível. Um jeito ridículo, um andar ridículo, um andar ridículo, um gosto ridículo, a humanidade ridícula, que lhe mais gargalha e manda girar. Momento impreciso, roubo morno e insípido, culpas gastas, colunas iguais as semelhantes... Mas nada sustenta o sabor de gelo com água, ninguém tem culpa de nada... Mesmo assim: gira carrossel, gira!

Douglas Tedesco – 07.2008

Douglas Tedesco
Enviado por Douglas Tedesco em 21/08/2008
Código do texto: T1138665
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