BOCA DO MUNDO
Não quero faca, nem queijo. Quero a fome!
(Adélia Prado)
Eu só quero a fome.
Entre a boca e o mundo,
existe um vão faminto.
Quero esculpir-me de sulcos,
árvores respiram e dão flores.
Ser apenas seiva e ceia.
Servir-me do inesgotável.
Eu só quero um dente,
uma boca banguela e uma
alma saliente.
Quero apertar-me por dentro.
Exalar-me enquanto é tempo.
Deglutir-me sem nenhum pudor,
comendo-me com as mãos e
lambendo dedos tantos.
Eu só quero a fome,
dos meus pecados tão
santos...
LuciAne