Loucura

LOUCURA

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Abelhas zumbem em espirais revoltas.

Zunem ventanias colossais,

Águas se abrem mostrando mundos abismais...

Nos ares folhas em transe dançam,

perigosamente soltas ...

Gritos terríveis ecoam,

soltam-se amarras de prantos,

corujas piam

e pássaros cegos cantam

o mais estranho dos cantos...

Imagens distorcidas,

surrealísticamente retorcidas,

se estendem no campo trêmulo do olhar...

E eu, poetisa amante do belo,a perscrutar

essa expressão terrível

indago aos quatro cantos, à Terra, às águas,

aos fogos e aos céus, assustada:

Que significa toda essa loucura,

minha gente, meu amor, meu Deus?

Donde nascem todas essas percepções?

Quem cria o que ainda não foi criado?

E a resposta vem às gargalhadas,

-Do Reino insondável de Hades:

Tudo isso é fruto da dor

das pessoas desamadas,

das que perderam de algum forma,

os entes queridos, filhos ou amantes,

criaturas ou amigos

das que foram obrigadas

a dizer adeus,

das que foram seviciadas,

das que foram torturadas,

das que vivem na mais absoluta solidão!

E percebo, então:

Esse é o desespero da da revolta,

que o inominado nomeia,

que reinventa o que ainda não foi inventado...

É a angústia do que não volta,

é a saudade do passado

que não se pode diluir,

a falta daquilo que não foi vivido,

de tudo que era bom e foi perdido,

é a mácula numa vivência que deveria ser pura,

enfim, é a dor legítima

que pode levar à loucura

definitiva ou temporária,

mas que pode corroer a alma das pessoas...

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