pois É

Para um instante e pensa na vida, sim em tudo mesmo, exatamente

sobre as promessas eternas quebradas no dia seguinte

sobre as refeições sensacionais devoradas sem requinte

e todas as vezes que o metrô na hora do rush se comporta como um delinquente

Olha as rimas que na verdade não fazem sentido em poesia fuleira

Olha pra cima e vê o céu se fechar pra se esquivar da sujeira

Escuta as conversas infinitas pulsantes em cada esquina

Sobre vaidades coletivamente pessoais que interessam tanto quanto um monte de vaselina

Para pra imaginar o ontem e o anteontem e o dia antes de anteontem

Para pra projetar o amanhã como uma repetição de tudo dos ontens mas de formas diferentes

Pensa nas refeições dos amanhãs que vão deixar de ser surpreendentes

E nos paseios repetitivos e nas conversas entre bois sobre tudo que não diz nada nem pra um nem pra outrem

Tem gente que a gente quer bem mas que não dá a mínima pra perguntar: e aí, tudo bem?

Tem gente que a gente não dá a mínima mas sempre acaba por perguntar: e aí, tudo bem?

Tem gente que se importa com todo mundo e se fode com todo mundo só por perguntar: e aí, tudo bem?

Tem gente que não se importa com ninguém e fode todo mundo e depois pergunta: e aí, tudo bem?

Então o pássaro azul dançante vai buscar alimento para sua ninhada

Então o felino de juba grande vai pegar um cavalo listrado pra saciar a fome de seus compadres

Então o sujeito de botas e casaco sai por aí pra alimentar sua loucura, pra saciar sua individualidade

E aí a gente conclui que nada disso fez qualquer sentido

Nem as rimas

Nem a rotina repetitiva

Só a ideia mais simples e clichê desse negócio de vida:

Manter a prole viva pra ver o amanhã de ontem se repetir e ver no que vai dar