Aborto da estranheza
Mesmo que com outrem coexista
A essência de minh’alma é solitária.
E aproveitando-se do meu veio de artista
A angústia triste me é embrionária.
O passo seguinte do embrião é tornar-se feto
Humilhando-me por eu não poder deixar semente
Nesta terra onde a felicidade é desafeto
De quem um grande amor não sente.
Temo que o feto cresça e que me rasgue o ventre
Espalhando minhas vísceras na tempestade
Fazendo-me indigno da humana piedade.
Portanto, quero que se me apodere e me entre
Pelo coração as brisas de um calmo porto
E desta estranheza faça-me um frio aborto.
Cícero – 25-10-02