Somente hoje, para sempre

“Somente hoje, para sempre...”

O estribilho ecoava na sala virginal.

Aparentava uma morte inacabada.

Mazelado em gestos e trapos,

Desconheciam-se origens e orações

Em que seu ventre recebeu origens.

Seus olhos azuis, revirados,

Indicavam sapiência turva

Do que lhe circundava o presente.

O passado era seu destino, seu leito,

Suas tetas férteis.

Excrementos imprimiam surrealismos

Em suas vestes.

Tinha o corpo irritado e alma movediça.

Seu olhar translúcido, seus gestos divagos,

Tudo transgredia à fuga, abandono.

Olhava ocultando o visto.

Estrangeiro naquele tempo,

Naquele espaço, naquela vida teimosamente prática;

Estava dormindo à espera do passado.

Tinha um pedaço de sonho e um refrão:

“Somente hoje, para sempre...”

Uma dor no gesto e sangue coagulado:

“Somente hoje, para sempre...”

Pião de madeira, mamadeira, mamãe:

“Somente hoje, para sempre...”

Estupro, luzes apagadas, ameaça:

“Somente hoje, para sempre...”

Fundo, cada vez mais fundo, solidão:

“Somente hoje, para sempre...”

A dose Rohypnol não foi necessária.

Roniel Oliveira
Enviado por Roniel Oliveira em 05/05/2014
Código do texto: T4794902
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.