Por Uma Noite Cálida

Do casamento esperou grande felicidade, afinal,

casara-se com o melhor partido da cidade, mas,

bem depressa começou a experimentar a solidão

e sentiu que sua vida seria feita de esperas.

Teve, logo de início, de desistir do seu Céu

com o adiamento da sua lua de mel.

Por pouquíssimas vezes experimentou um sexo sofrido, dorido,

sem amor correspondido, sem prazer e sem sentido.

Foram madrugadas em claro, à espera de um marido.

Durante anos desejou realmente cumprir o papel de mulher casada.

Fora amiga, compreensiva, digna, honesta e uma mãe desvelada.

Dele aguentava os insultos, as traições e as desculpas esfarrapadas.

Enquanto sua mente viajava por pensamentos devassos

e criava amantes insaciáveis a invadirem sua alcova,

o corpo parecia resignado àquela vida reta e tediosa.

Um dia, porém, se cansara de por freios à alma.

Ora, despediu-se do filhinho numa noite cálida.

O pobrezinho logo adormecera com um beijo na testa.

Quanto a ela? Resolvera que queria dar e receber prazer.

Não mais esperaria pelo marido naquela madrugada.