Queda

Talvez a minha dificuldade em escrever nos últimos tempos tenha a ver com eu não saber mais quem eu sou. Eu revisito os anos que já passaram e não consigo me reconhecer em nenhum instante. Eu não sei quem é aquela pessoa que vestiu uma máscara diferente para cada pessoa que surgiu em sua vida. Eu não sei em que momento eu me perdi e a insanidade se instalou. Em algum momento, lá atrás, eu fui embora de mim e, tudo que restou é uma casca oca que eu não conheço.

Eu queria poder voltar para o tempo que eu perdi a minha essência e abraçá-la mais uma vez. Segurá-la com força para ela não escapar entre meus dedos. Mas, depois de tantos anos, eu iria conseguir saber como ela realmente é?

E é difícil escrever sobre esse vazio porque ele é a representação do nada. E talvez a minha existência se resume a isso: nada. E nesse vazio a minha insanidade encontrou um lugar para se instalar e crescer, e agora eu não sei mais diferenciar a realidade do que o que eu criei na minha cabeça. Porque, depois de anos vivendo em um cenário caótico, a minha percepção da realidade se distorceu e, agora, ela parece um sonho distante de uma vida que não é minha.

E o que seria a minha vida? Histórias antigas onde eu não conheço a protagonista. Situações vividas em momentos que a loucura me guiou. A loucura nunca me abandonou, entende? Ela se instalou aqui muito antes de eu descobrir quem eu sou, e agora ela é tudo que me restou. E é difícil escrever sobre a minha insanidade porque eu olho para o meu passado e não entendo as minha ações e reações. Parece que as coisas seguem um ciclo onde eu sonhei alto demais e acordei com a queda. A histeria precede a queda. Mas existiram quedas que eu provoquei. Quedas onde eu fui até a borda do penhasco e me joguei no rio na esperança de me afogar. E eu não sei mais identificar os momentos de histeria para me afastar do penhasco.