Os mortos não têm lar

Os mortos não têm lar,

O mistério mais profundo

Os quintais mortos

As folhas secas,

Terra suja, galhos tortos,

Casas velhas, rostos em retratos,

Sem cercas, caminham seus corpos, trapos,

À linda música,

À sua tristeza mais bela,

Ao que perpassa, ao que ilumina,

Em seus versos, o que escureceu,

Que cantam à morte com um tom sereno,

Ao descanso da vida,

O dom de suavizar a saudade,

A mais intensa lealdade,

Amar quem um dia viveu,

Continuar, mesmo assim, num breu,

A lembrar de formas, sorrisos, carinhos,

falsas memórias,

A levar todos eles nas costas, em cada pisar, consigo

Em cada novo desafio,

De nos tornarmos apenas um,

Acumularmos dos nossos mortos queridos

Ser o amor mais forte,

Àquilo que negou em vida,

Se por ego ou vergonha,

Responde a todos os pedidos

E vela no mar aberto,

O espaço que o tempo já corroeu,

E que será, a nau, o próximo corroído,

O sempre querer da vida, tão ínfima,

Sendo chuvas, sóis, luas,

Almas..

Homenagem à belíssima música: ''The ghost Have no Home'' de Cocteau Twins e Harold Budd