Anjo
Os passos são passos
São poucos, opacos
Como os dias.
Longos, que sejam. Acabam.
Tinha eu. Tinha ela.
Ainda tem eu, sem ela.
Era um anjo,
Voou.
Tinha ele.
Grande homem ou presidiário, seu pai dizia.
Seu sorriso estampado,
Eu ouvia calado,
Ela dizer: foi os dois
Tarde, tão tarde. De tarde
Me perturba, inquieto, o sono.
O que faço?
Um lado. Dois lados. Sem lados.
Não tem ela. Não tem nada
Tem eu, que não fiz nada
Na mente o seu sorriso
No rosto minha lágrima
Me perdoa, Anjo,
Por não ver o que sentias.
Seu sorriso lindo ofuscou. Ofuscou!
Muito mais que antes, me sinto inútil.
Os dias passam. As horas passam
O desespero ampara, minha cabeça rasga.
Arrasto deito sento, penso, mas não concluo nada.
Me perdoa, Anjo,
Por não ver o que sentias.
O Sol se pôs, melhor deitar
Relembrar, mais uma vez,
Que o humano é imperfeito,
É necessário perdoar,
E ela era um anjo
Que voou sem asas.