Canto de Natal

Invisível, atrás das nuvens quase negras
deste dezembro que termina tão soturno,
se adivinha a lua, se escondendo,
receosa, talvez, de aparecer.
Caminho a passos lentos pelas calçadas
nesta noite que devia ser de paz,
nas poças d`água vendo reflexa minha dor,
iluminada pelo brilho das vitrines
desta noite que se promete rica em amor.
Eu penso em você,eu penso em mim,
penso naquilo que poderíamos ser,
no que poderíamos dar e receber.
Pinga no meu rosto, água de chuva,
(será de chuva?) e fico sem saber
se vou,se fico, se vivo ou morro.
Seu nome tenta em vão atravessar o vale escuro
que bloqueia meu coração.
Chamá-lo, eu penso, vai trazê-lo aqui.
Nem sei se quero.
Engulo e estrangulo.
Transformo em fel estas palavras que torturam.
Amanhã talvez, ou quem sabe, um pouco mais depois
você virá, se desculpando
da culpa que não temos mas sentimos.
Amanhã você virá, mas não hoje
nesta triste noite de Natal.
E eu penso que sairemos atrasados
a colher flores já murchas, abandonadas,
sem perfume, sem cor, pisoteadas.
Você há de procurar me consolar por sua ausência.
Eu, porém, do outro lado da noite escura,
guiada pela estrela da esperança,
terei deixado as sombras da amargura.
Serei Luz, brilhando na amplidão.