O que vi e ouvi

Vi e ouvi pela estrada larga
No horizonte distante
Um grito dorido de socorro
Que aumentava a todo instante.

O que aparecia para lá dos montes
Ninguém poderia imaginar ou ver
Mas a ânsia em desvendar o escondido
Construía entre desejo e sonho – pontes.

E foi assim que vi o “invisível”
De olhos cerrados e coração aberto
Numa busca inquieta, sofrível
Cheguei bem mais por perto.

Entre a fumaça das queimadas
Vi as árvores como esqueletos
Caírem umas às outras apoiadas
Como se adagas ferissem seus peitos.

E vi mais... Vi secarem de repente
Como seca a terra sem chuva
Rios caudalosos, antes como serpentes
Correndo pelos vales, fazendo curvas.

Mas eu ouvi gritos de dor
Partidos do ventre da terra
Destruída, calcinada, sem cor
E animais sedentos entre as serras.

Vi e ouvi o clamor do ser humano
Abatido, inerte e tomado de pavor
Vítima das ações de um desejo insano
Que fazia da terra um deserto de terror.

E a consciência cambaleante
Não me deixava ver com lucidez
Os efeitos desse mal mais adiante
E sucumbia a terra em languidez.