ANTI-CIÊNCIA
O cosmos me insignifica. Sou
Parte única da massa imensa
Mínima fração imersa
no vício
Do atrito sentido em toda coisa tangível
E nesse sentir
Me compreendo
Incompreensível.
Pasmo sob a noite eterna
Que me acena
Um cadáver claro
Ainda que vença-me a duração sucinta
Das parcas percepções
Capturadas da eternidade finda
Por minhas mais que findáveis
E fatigadas retinas
Que tão pouco vivem
Insuficientes
Mas o suficiente para a vastidão espacial
Sem fora nem começo
Contemplar do véu um terço
Do que acredita-se todo ser
Tudo ser
Ou menos
Oque já não possamos entender e
Tampouco saber
Se ao menos imune ao atraso
Pudéssemos vê-lo
Em estelares partes
Nascer e morrer.
Então como disvenda-lo?
Mesmo se por ventura se assumisse
Possível acaso
Correriamos sempre atráz e atravês
Do tempo inventado
Assistindo seu desfecho inigualável
Antes e pouco provável
Da explicação
Do mundo alcançável
E já demasiadamente enigmático.
Inédito é o universo possível
Que nos desmembra ao explicar-nos
E ao fazê-lo
Apequena o homem sem tal zelo
Que nem capaz de si
Próprio alheio
Acretida - incrédulo - sê-lo.
Não nego tua amplitude
Tua complexidade me apetece
Distante tua negritude
Cerca-me, afim, do que m'enlouquece
Se distrai minha experiência
Que posso eu contra teu esplendor?
Mas se a vida reassumes a ciência
Tua frívola realidade conduzes-me à dor.
O tempo cósmico não me pertence
Nem mesmo
Me interfere
Com tamanha rapidez
Que minha existência efêmera
o fere.
Quero saber é do teu fim
Se a meu lado teu desfecho
Galáxia jamais desbravada!
Íris esverdeada
Que ilumina com o mais reluzente fecho
O lume das terdes sem fim:
Olhar da mulher amada!