OS SINAIS DA PRIMAVERA

O céu espargido em entretons de cinza azulado, ainda guarda um pouco dos tons pasteurizados e austeros dos meses de inverno em São Paulo. No inicio do outono, ondas de frio, extemporâneas, ainda insistem em ir e voltar, intermitentes e desorientadas, gripando pessoas e cabulando a paisagem do fim de tarde. Contudo, no fim de setembro, de vibrações de calor explodem revoltas e inconsistentes, como prenúncio da primavera que se forma.

Assim, a temperatura se firma, esquentando de vez a atmosfera e as árvores já ostentam um visual mais colorido e alegre. Na verdade, desde o final de agosto, ela já vinha sinalizando com seus passos tímidos, como sempre acontece, em preparação a sua chegada triunfal dia 22. Por isso, há algum tempo, já vínhamos vendo por aqui, algumas espécies como os ipês, mangueiras e Flamboyants numa floração antecipada.

A primavera não falha e vem oferecida lá do reino das flores. Vem mesmo que nossos espíritos ainda não estejam preparados. Percebe-se que ela traz, uma nova atmosfera, no esvoaçar e na multiplicação dos insetos, nas revoadas das borboletas, no canto insistente, embora triste da cigarras e na alegria incontida dos pássaros, com seus arroubos cada vez mais estridentes. Chuvas fortes e inesperadas ocorrem, eventualmente, além de noites mais breves, sintomas inequívocos de sua presença próxima de nós.

Ela é uma força mística, que parece sussurrar no ouvido dos seres viventes, dando-lhes uma nova esperança. para que cantem e vivam e às arvores e arbustos para que troquem de roupa, de modo que a natureza toda fique mais atrativa. Assim passamos a notar uma estranha conjunção de fatores além dos nossos olhos. Os horizontes ficam menos sombrios, pela presença dos comboios dos raios de sol que se agrupam no horizonte, formando crepusculos espetaculares. O ar se torna mais respirável e até mesmo o fardo da vida, fica mais ameno, com um clima de mais otimismo no ar.

Nas matas, onde o ambiente é mais natural, sua presença é ainda mais nítida: flores do mato explodem em cheiros adocicados, arbustos ralos soltam flores estranhas, esquálidas, atraindo os polinizadores, fazendo-os voar enlouquecidos, principalmente os insetos de asas e como as abelhas e insetos itinerantes.

Milhares de aleluias brotam do nada após as chuvas como uma invasão de pequenos extra-terrestres pacíficos, vindos do espaço!

Nesta estação, em todo trópico sul, nas madrugadas, principalmente, ventos assustadores sopram como que demonizados e ajudam a atear mais feromônios no ar, fazendo com que a natureza toda se extasie num frêmito, numa espécie de orgia convulsiva, despertando em todos os seres vivos, o desejo de amar. Por isso, ela é conhecida, como a estação da procriação!

As pessoas sentem esta mudança, não se enganem. Os mais sensíveis se unem às criaturas da mata e às plantas, todos submissos à dança da estação colorida. Para recepcioná-la, inconscientemente, muitos escrevem, compõem músicas, desenham, ou pintam no aflorar de suas sensibilidades, abrindo generosamente, os jardins dos seus corações, que se alegram e se elevam, porque em nossas almas, como na dos pássaros e outros animais, pulsam a luxúria dos sentimentos e desejos que vem em camera lenta e às vezes, até de forma extravagante. A arte aflora a vontade de viver.

Nos meses de outubro e novembro tudo se engalana e ninguém tem dúvida de que ela já reina absoluta. Nesta altura, há uma festa nos céus, para celebrar na terra, a sua festa de cores e a perpetuação das espécies e celebração da vida!

Nesta estação, os ambientes são sempre coroados pelas flores, tudo demuda e faz com que cada um de nós, seres vivos, passemos a ter espírito de verdadeiros camaleões, por onde ela magicamente perpetra, a matiz de suas cores!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 22/09/2018
Reeditado em 24/09/2023
Código do texto: T6456584
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