Amor aos Extremos I

A quem fala mal do normal,

Tenho estranheza, vejo com dúvida

De quem só enxerga paixão, afinal

Muito discorda a minha mente dúbia.

A quem só vê oito ou oitenta,

Meu coração, sente pena, piedade

Não sabe como é que agüentam

Viver chatos, sem a diversidade

Eternamente estão oscilando

Entre a loucura que os arrebata

E um mar que os vai afundando,

Em uma exsitência ingrata.

Viver de extremos é prender

Toda uma vida à insatisfação

De jamais realizar ou satisfazer

Os anseios de um coração.

Pois que o coração é peça delicada

Dessa máquina complexa que temos

É de rara engenharia engendrada

Não suporta bem climas extremos.

No coração mora a mais bela sutileza

O mais puro medidor do que é bom.

Um perfeito analisador de beleza.

Mui capacitado monitor de tom.

No coração dos leves, dos serenos

Mora a chave para as verdades da vida

Resposta a “de onde viemos, pra onde iremos”

A porta de entrada, e o umbral de saída

E aos amantes de extremos

O que dizer, que não acalmar-se

Ao ajustar os sentidos, só então veremos

Que a vida não mais será um impasse

Antes será, um novo amanhã

E o mundo, um local diferente

Se deixarmos essa busca vã

Por um só extremismo doente

Pois esse querer sempre mais,

É algo que não tem solução

Faz sofrer muito, de forma mordaz

É voar sem tocar nunca o chão.

O amor que enriquece e alimenta

Existe nos detalhes pequenos

É o ardor que aos poucos esquenta

A rotina da qual esquecemos

Eis que um mais sábio um dia nos veio,

E procurou ensinar seu tesouro

Que há também um caminho no meio

E que o equilíbrio vale mais que o ouro.

Mas poucos de nós aprenderam

Ao ouvir seus valiosos ensinamentos

A maioria, em extremos sofreram,

Tiveram muitos e muitos tormentos

E aos poucos felizardos, sobrou a alegria

De ver o tesouro de cada luz do dia

E a imensa e inconformada tristeza

De com tão poucos dividir essa beleza.