O novo, o velho e eu

Numa praça onde desembocavam

Várias ruas de direções diversas,

Um velho e um jovem se encontravam

E comigo, começaram conversa:

O jovem contava vantagens

Dizia-se tão certo e profundo

Garantia que em suas viagens

Certamente ia dar jeito no mundo

Eu ria da arrogância do novo

Por que ali, já tinha estado

Sabia da ignorância do povo,

Sabia dos erros do meu passado.

E o velho olhava a nós dois

Um sorriso em seu lábio brotava

Seu olhar brilhava, para depois

Voltar à laranja que descascava.

O jovem me falou de revoluções

De quão fácil era mudar a realidade

Dizia que eram falidas as noções

Daquilo que eu chamava sociedade

Eu dizia que não é bem assim,

Que todo caminho precisa esteio

Ele lançava impropérios pra mim

Ignorava o meu caminho do meio.

E o velho a nós dois contemplava

Com um sorriso no rosto marcado

Seu olhar no entanto, brilhava

E punha o canivete no bolso do lado

O jovem, em sua grande urgência

De provar o quanto estava certo

Para outros da mesma experiência

Levantou-se, e saiu ali de perto.

Então ficamos eu e o velho a sós

Só o sol, e a praça a nos fazer companhia

Perguntei “ah, meu velho, que será de nós”

Seu brilho no olho, sem dizer nada, sorria.

E da laranja, me ofereceu um pedaço

Eu aceitei e estava boa de verdade

Então ele disse sem nenhum embaraço

E sem nenhum traço de senilidade:

“Meu filho, já não sou mais jovem

Nem de meia-idade eu sou mais

Quando eu olho para o ontem

Vejo quantos anos deixei para trás

Sei que a vida não é perfeita nem nada

Que o mundo não é simples de se consertar

Mas não erra o jovem em sua luta acirrada

Nem erra você, em parar pra pensar.

Só espero da vida, que me leve em boa hora

E que aqueles que ficam, aprendam a viver

Que pensem nas coisas e vivam sem demora

E que não deixem sem paz, o mundo morrer.

E além disso, pouco resta pra nós

É ir vivendo, tentando fazer o que dá

E saber que um dia estaremos a sós

No fim do caminho que devemos trilhar.”

E o velho sorriu uma vez mais pra mim

Levantou e devagar, foi-se indo embora

E gostei de sua conversa, pensei por fim

Seja eu um velho assim, quando for minha hora.