Águas do Ventre do Rio de Janeiro

Deus pode até ter criado

Como espelhos do céu os mares e lagos

Mas a Baía de Guanabara Ele escolheu

Para refletir, no topo do Corcovado,

A grande imagem do filho Seu!

Talvez por isso e por sua geometria,

Semelhante a um feminino ventre

provavelmente inspirada no da Virgem Maria,

A baía é portadora dessas águas,

Para mim, tão inspiradoras...

Quero que afogue meus poros, deite-me em mim

Num fundo respirar em seu ventre inspirador

Nessa manhã ainda pouco aquecida

Onde o concreto da ponte fez-se transbordar

No céu e nesse espelho, o mar, seus tons de cinza...

Assim escuto as águas sussurando

A angústia dos beiros fortes

Que tem a sorte de belas visões da baía,

Mas não podem pecorrê-las e nem sentí-las

Elas também sussurram sobre nevoeiros,

Que ao contrário dos beiros fortes

Estão em todo o lugar e por isso,

Em lugar algum, nem em si mesmos...

E no reflexo dessa grandeza

Me vem diversas lembranças

De homens nevoeiros e outros fortalezas...

Mas tem algo que não é sussurro, é grito

Talvez vindo das águas

Ou até mesmo um eco da imagem de Cristo

"Tolo é o homem que polui a baía!"

Mas até nisso ela me inspira:

"A baía está combinando sua sujeira

Com a sujeira da alma do homem que está a sua beira!

Inclusive dessa tão familiar que agora se encara!"

E só um pensamento resta

Com o grito tornando-se flecha:

"Como essa baía no reflexo desmascara

Tão caro é encarar-se nela

Quanto tão pobre for a alma refletida...

E sendo assim que o reflexo Dele no Corcovado

Fique junto nas águas com nossos reflexos deformados

E continue me inspirando na baía

Nesses reflexos todos de todos os dias..."