São as águas de abril

Derrubou-se o céu no centro da cidade

Borbulhavam as poças,

Corriam as moças,

Tudo não só molhado,

Mas também carregado

Para dentro do mar.

Derrubou-se o céu no centro da cidade.

Bem na hora do rush,

bem na hora fatal,

Todos na rua correndo,

Fugindo do mal.

Os carros buzinam,

As mãos se empinam,

Árvores balançando

Tais quais velhas vedetes

De outros carnavais.

Eu no meio disso tudo

Torcendo por tanto,

Ao mesmo tempo por nada,

Torcendo em um canto,

Olhando a enxurrada,

Levar o encanto

De uma lona molhada

E as ruas enchendo

De água empoçada

E preocupação.

E o céu não se cansa

Nesse resto tardio

Das águas de março

Não é pau, nem é pedra...

Mas pro fim do caminho,

É só mais um passo.