Fluído dia

Por hoje eu vou deixar (...)

I

Sem revolucionar meu universo

nem recitar aquele uno-verso

retiro a interrogação das frases

feitas no cio da boca ansiosa

que hoje fica apenas ociosa

(Como grita Mundico...)

O que se torna passado vira eterno

E o presente é um passado mosaico inevitável

Então o futuro é senhor do nosso interno

Esperanças, anseios e tudo que for mutável

E hoje meu pensar deixa tal senhor quieto

para a alma sair da enfermaria,

a mente aproveitar mais as coisas do dia

e a sombra só ser onde a luz não ilumina

não uma lembrança do homem que já existira

II

Internas sombras e almas

tão dependentes e tão antagônicas...

sem alma a sombra é estática

alma sem sombra é corpo sem luz!

III

Nessa encomenda sem direito a pedido,

nesse caminho feito e entregue pelo Destino,

sendo-me imposto pela goela a baixo,

eu, destinatário insatisfeito,

vou onde esse remetente intrometido

nunca poderia ter previsto

e muito menos entendido!

VI (I + II + III)

(então eu é que entendi)

Para sentir o fluído do dia

preciso deixá-lo fluir em si

ou em dó, ré, mi, fá,

ou em sol de cada manhã, ou em lá

onde o destino não previu!

Fazendo suspiros sustenidos

e entrando nuns becos bemóis

numa música composta no escuro

desse senhor, o nosso futuro.