Sentir, pensar, deixar rolar

A Emoção é um problema

Que tantas vezes me assalta

Umas vezes é de sobra,

E em outras, chega me falta

A Emoção é outro ambiente

É mergulhar na profundeza do mar

Não equipado, pulmão somente

Sabendo que ficarei sem ar

Emoção é uma chuva,

Dos verões a tempestade

Tormenta que cai rubra

No chão cinza da verdade

Emoção é um estorvo

Um barulho estridente

O grasnar rouco de um corvo,

A dor de um velho dente...

Emoção, enigma intrincado escrito

Em língua por mim desconhecida

Parte de um velho e secreto rito

de uma seita há tempos perdida

Emoção é a hora mágica

Na qual engano a mim mesmo

Nessa peça cômico-trágica

Que insisto, enceno a esmo.

Emoção é o outro lado

Da velha e conhecida razão

Jogo de espelhos, faceado

De uma poética perfeição

Quando as duas dão-se as mãos

A plenitude tem seu lugar

Pois diferem tal o sim e não

Mas se chegam a se equilibrar,

A perfeição acontece

E a vida se deixa rolar

No pavimento que me desce

Da montanha até o mar...

E o sentimento entende

Que é preciso saber pensar

E o pensamento aprende

O que é sentir, e viver, e amar.