Enquanto Houver

Enquanto houver para mim

O tempo, o alimento da vida

E alento para um brilho em meu olhar

Não desistirei da procura

Seja a estrada dura,

Ou difícil a semeadura

Não desistirei de achar

Não desistirei de me apaixonar

Não pelo que está fora, nem por outrem

Não por qualquer pessoa, por ninguém

Não desistirei de renovar

Minha fé em meu próprio eu

Pois que sou cetro, sandália, caduceu

Sou ministro da minha ordem,

Sou quem me trouxe do pó

Sou o deus do meu mundo só.

Então, nesse evangelho solitário

Nesse universo de um

O pecado mais mortal e primário

A falta mais grave que há

Sou eu me descobrir unidade

E não me amar de verdade.

É difícil, nem todos conseguem

Amam mais o outro que a si

Principiam do erro e seguem

Espalhando erros por aí

Enquanto houver em mim

A vida que me sopra adiante

Lutarei nessa luta sem fim

Contra o equívoco exasperante

Da falta de profundidade,

De aprender, sem pensar na verdade

Em tudo que se lhe oferece,

Aceitando como se fosse prece...

Enquanto houver em mim

A vontade de agir diferente,

De encarar isso tudo de frente,

Não vou nem vestir outra roupa

Ou tatuar algo que me destaque

Morderei a verdade até ver sua polpa

E as idéias prontas sofrerão um ataque.

Enquanto houver em mim esse eu.

Essa semente de um universo

Esse pequeno ser que aprendeu

Que ser livre é pensar o inverso.

Enquanto houver gente piegas

Espalhando simbolicamente por aí

Essa glicose virtual às cegas

Estarei contra, estarei a sorrir.

E enquanto houver luz eu sigo

Procuro ser bom, nem sempre consigo

Mas eu sigo, Procuro, sempre tento.

Do primeiro ao último de meus momentos.