Circus Noir (in memorian)

quando as noites se arrastam rumo ao dia

em um strip-tease em câmera lenta

sob a luz branca e cega de uma enorme lua

pessoas se encontram e se perdem

se cospem e se despem e se metem

se comem, e se amam

se escondem, se abrigam

em plena rua, a plenos pulmões eles gritam

e uivam quando ela está no ápice

quente, louca e nua

então sempre mais é o que eles pedem

mais, mais, e mais dela que não é minha

dela que já foste tua e de todos

que vagam sempre procurando algo ou

alguém que possa ser usado, absorvido

inalado ou dissolvido antes que o dia queime

as retinas e revele toda sujeira

toda a insônia e toda infâmia rotineira

alvorecer de toda insânia

esconderijo dos poetas e suas olheiras

mas ela...a noite, sempre volta

então eles recomeçam a correr atrás delas

das puras sujas, das putas puras

das casadas e das donzelas

novas danças e carícias se consumam

até o dia raiar e eles começarem

novamente a morrer...enquanto elas dormem

os poetas de olhos vidrados fumam folhas em branco

ao som dos estampidos

as mães choram seus filhos e os doentes pedem cura

as crianças pedem o leite que seca nos peitos

e a vida continua...