Divagações

Às vezes, é minha mente a divagar.

De vagar, de tanto vagar, ela cansa

Mesmo que vagueie devagar,

Mesmo quando a poesia a alcança,

O desânimo vem, e a faz hibernar

Entra num ócio contido, um quase-sono

Um não-pensar desvalido de abrigo

Um morar em país estranho, sem patrono

É a mente a tropeçar, em território inimigo

Às vezes, é a vida e suas tragédias normais

Sejam más notícias, públicas ou privadas

Às vezes prejuízos, ou doenças mortais

Outras vezes, desilusões desamordaçadas

A mente flutua num âmbar cartilaginoso

Num pântano sutil de impressões a tirar

Uma selva implacável, habitat perigoso

E quase nenhum mapa para me guiar.

O segredo para sair, duramente aprendido

É ir pisando nas pedras que acaso encontrar

Mesmo que às vezes me suspeite perdido

Olha em torno, vê outra pedra onde possa pisar

Só se pisa na próxima, se mostrar-se segura

Firme, capaz de sustentar bem o peso

De nós, nossas vidas, dúvidas, amarguras

Pra seguirmos nosso caminho coeso

E partir de cada pedra, para trilhas futuras

E saindo dali, a mente descansa

Do repouso traz nova energia

Retoma um pouco do riso de criança

E abre espaço para a velha alegria.