Poesia do cimento
Veio do cimento ao cimento voltarás.
É a tua algema, pois o teu muro te prende.
Cimento mente; revela entre quatro paredes.
Gosta do escarro e das fezes no esgoto.
Fantasia-se de caminho; cruz, santo, busto.
É lembrança, é cola; caixa d'água.
Não escolhe a raça; igreja, presídio, hospital.
Nobre, cofre, sarjeta de rua.
É concreto é alicerce, mas na fraqueza do sentimento a implosão ganha espaço.
É humano, é braço, perna e bunda.
Letra, palavra; é emblema é foto.
Reciclagem, lei, pó; coração empedernido, sufocado.
Desenho de criança.
Trabalho do pedreiro, água, areia, pó, calos das mãos; dinheiro minguado.
Calçada de rico que dá pra fazer casa de pobre.
Banco da praça onde começou o namoro; hoje dorme um mendigo.
Nome da cidade, ponte da cidade, é toda a cidade, é toda cidade.
Tem cheiro e é curioso de ser visto manipulado.
É invenção humana, é perfeito.
Tem receita. Regra. Exceção.
É cinza; cinzas.
Maternidade, escola, túmulo; paraíso.
Que besteira, que bobagem. Ainda bem que computador não é cimento, eu paro de escrever, eu deleto e pronto.