Comigo só eu

COMIGO SÓ EU.

Olho ao redor e ninguém vejo,

procuro por mim e não encontro,

não sinto prazer nem desejo,

com a paz que busco me confronto.

Lembranças que chegam são saudades,

só palavras não me confortam.

Na lua procuro e não acho claridades,

o sol nem olho porque seus raios me cortam,

as flores se abrem num triste jardim,

os segredos eu guardo no fundo do peito,

com ninguém compartilho e os escondo de mim.

Não sei se é moral, vergonha ou defeito,

mas é o sentimento do meu coração,

que cansado, perdido, vazio e traído

na vaga da vida esta grande ilusão

onde choro a derrota do herói (que já fui) alquebrado e vencido.

Conforta-me apenas a certeza do fim

e nas ondas do nada que rolam e me arrastam ao próprio infinito,

rumo a luz que se apaga do olhar moribundo em que o reles de mim,

neste mundo aportou num momento de atrito.

Desde o berço ao sepulcro, mantive-me só

com as angústias internas onde usei minha força,

suportando as tristezas que o passado por dó

nem me trouxe às lembranças, muito embora hoje eu torça

por ter uma nova ilusão no destino futuro.

Talvez, a verdade presente seja um golpe bem duro

neste meu sentimento, e se outro dia existir,

entre coisas tão lindas esta nova ilusão

não me leve entre prantos ou mesmo a sorrir

pra masmorra cruel dessa tal solidão.