Hangar

Eu me sento e observo os hangares

e os aviões e a névoa fria que nos envolve

tudo parece distante

fora de alcance, minha vista perde o foco

helicópteros, prédios ao longe

minha alma vaga acima das antenas

mas eu não vejo o horizonte

estou cego e pasmo diante desse vazio sonolento

que abraça a cidade

e bocejo soltando fumaça

na tentativa de despertar em mim

o que está adormecido dentro de todos nós

e mesmo que dessa vida de tentar dar corda

aos nossos sonhos

pouca gente acorde pra perceber

como somos de fato estranhos

eternamente buscando no outro

algum conforto

algum meio de atingir aquela felicidade desconhecida

e sem nome

da qual sempre temos apenas relances

o brilho nos olhos de quem a gente ama

num nascer do sol preguiçoso sobre a cama

comidinha da mãe ao chegar cansado

e quase morto de fome

e tantas outras coisas que passam despercebido

enquanto corremos feito loucos

atrás de dinheiro (meios) ou

de algum sentido (fins)

mas os ponteiros giram e giram

e seu tictac contínuo certos dias

soam feito estampidos

talvez Cronus metralhando

seus próprios filhos oprimidos

que caem feito grãos de areia

em sua ampulheta, destino final

do Destino

e em silêncio eu peço ao Universo

que abra meus caminhos

e me livre de todo desatino

que os homens são capazes

do egoísmo, do flagelo e

todos esses sentimentos fugazes

então mesmo que essa pequena oração

sirva somente a mim como lembrete

ou assistente de vontade

abstração da minha dor nas costas

ou cápsula porta-saudades

que seja

ou quem sabe essas palavras subam feito balão

e caiam num outro canto da cidade

eu iria amar incendiar o coração de alguém

que por ventura captasse essa mensagem

eu não acredito no impossível

talvez vocês não devessem também...