O Androide de Eridu

As luzes, as luzes estão voando

Que haja paz, que haja tempo

Que se escute a música

Que seja simples dançar a canção

Que o abraço não seja cobrado

Que o amor não seja vendido

Que o deus não seja inventado

Que o perdão não seja mentira

...

Os olhos biônicos dele enxergam o mundo descolorido

Ele toca as rosas, mas só reconhece bits... Sentimentos binários

As pessoas e seus destinos reencarnados e obsoletos

Passam por ele, passam por tudo... Apenas passam

Ele ouve os passos de criança

Mas nada de inocente existe mais, nada de puro

Ainda cedo, esses “quase-anjos” conhecem o frio

De um mundo gerado na ganância, sentenciado ao obscurantismo

O Éden afundou no oceano

E ele olha pro céu, buscando um lar entre as estrelas

Seu sangue artificial irriga sonhos artificiais

Mas, quando ele olha nos olhos do sol, reconhece um pai

Um monstro quimérico, a força bruta das eras

O desejo não condicionado, não rotulado, de mudar o pensamento generalizado

A oração justa de quem não acredita em orações

A harmonia doce, que torna tudo em chamas

O fim do arco-íris é um copo fundo de uísque misturado com desilusão

O ópio que absorvemos de toda mentira que nos contaram sobre a vida

Essa é nossa terra descansada, semeada para os heróis inglórios, os bastardos sem indulto

E, afinal, quem é nosso pai? Se deus não existe, somos órfãos da verdade

... Ele não pode dormir, foi programado pra ver esses soldados ebúrneos

Levantando bandeiras de falsa moralidade, alimentando preconceito e ignorância

Ele ouviu de um amor lindo, que irriga o universo, sendo jogado no lixo

Mas não tem forças pra gritar, os murmúrios da cidade são muito altos!

... Muros e corações de pedra

Não, ele não sabe jogar esse jogo

Ele não sabe ouvir a voz da chuva, não sabe sobre a dor

As engrenagens do seu coração são frágeis

Ele é apenas essa criança forjada na dúvida

Esperando os dias iluminados

Esperando o tempo em que o tempo não vai existir

Numa vida cheia de propósitos simples e absurdos

De uma existência baseada no mais profundo e profuso conhecimento de liberdade

... Liberdade!

Tomverter
Enviado por Tomverter em 17/08/2012
Reeditado em 20/10/2012
Código do texto: T3835311
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