Meditações diversas
Ouço Vinícius e no cérebro ecoa um grito
É a inspiração que pede passagem
Querendo liberdade para uma grande viagem
Sem rumo e imprevisível pelo infinito.
Eu obedeço tal o escravo submisso
Que não ousa enfrentar a sua senhora
E os dedos ponho a trabalhar sem demora
Para que a poesia, através de mim, faça o seu serviço.
Nesse momento há uma conjunção espiritual
Maior até mesmo que o profundo prazer
Dos corpos que se amam sem saber
Que tal ato é humano e apenas carnal.
O amor (ou o sexo) se faz a qualquer momento
Pois o desejo nasce de um toque ou de um olhar
E inexplicavelmente leva as pessoas a delirar
Imaginando o clímax como real sentimento.
Meu Deus! É claro que o amor é lindo e inexplicável
Mas “se tão contrário a si é o mesmo Amor”
Como esquecer que tem espinho feito toda flor
E torna o amante tão alienável?
Esquece! Falar de amor é tempo perdido
Pois todo aquele ser que ama
Mesmo sabendo que o amor é chama
Deseja-o infinito e pode ser surpreendido.
Agora, fazer poesia não se faz a todo instante
Embora a todo instante ela exista
É preciso um trabalho de paciência, espera e conquista
Para que ela seja nossa eterna amante.
Quem é poeta, nasce poeta e poeta morre
E se entristece quando o abandona a Poesia,
Genial e geniosa senhora da fantasia
Cujo excesso é um doce e memorável porre.
Ainda farei uma grande poesia e serei um grande poeta
Talvez passem dores e amores pela minha vida
Mas a poesia será sempre minha confidente preferida
E a forma de atingir minha ambiciosa meta.
Porém, num mundo onde a Palavra é desprezada...
Bom, deixa para lá; ainda é possível sonhar
O mundo gira e até as pedras podem se encontrar...
Talvez minha terrena existência não seja apenas passada.
Cícero – 04-12-02