Ao Pai Nosso
Às vezes a gente pensa
Que o tempo é algo mais
Porém se a dificuldade é densa
Não deixamos nada para trás.
Porque embora humanos e volúveis
Nem sempre temos tolas qualidades
Pois sabemos que as diversidades
Da vida são na verdade insolúveis.
É por isso que nos prendemos
Ao ego e toda sua inconstância
Mas de repente nos surpreendemos
Ao topar com a vida e sua intolerância.
A vida não tolera perfeição
Não gosta de desafios
Não admite acomodação
Abomina o que é desprovido de brios.
Nos julgamos donos de tudo
Reis de nossa própria consciência
No entanto, rejeitamos nossa demência
Usando a alheia como escudo.
E eis que na hora do desespero
Muitíssimos se agarram ao radicalismo
E equivocadamente querendo o universalismo
Constroem um ego sem nenhum tempero.
Todos dizem que todos são loucos
Mas o que é a loucura senão
Um mero convencionalismo de poucos
Aceito por todos devido à falta de opção?
Tudo no ser humano lhe é paradoxal
Porém, crente em sua ínfima sabedoria
Sufocado por sua ganância e hipocrisia
Não vê que todo excesso lhe é mal.
E assim a humana raça
Vai vivendo sua existência miserável
Condicionada a ver tudo o que passa
Transformado em lixo indegradável.
O mundo em grande depósito imenso
(Pela redundância perdoem-me os gramáticos)
É transformado por cérebros asnáticos
Que não têm o mínimo de bom senso.
O inexorabilismo do fim a sós
Prometendo incuráveis dores e feridas
Faz muitos esquecerem do Nós
Para salvarem suas pobres vidas.
Mas a dita salvação divina
Não se obtém com tamanha facilidade
Ela é justa e pede um pouco de crueldade
Para se fazer imparcial e maestrina.
O comodismo me incomoda
Não fomo feitos para indistintamente
Sermos a folha da grande poda
Que faz Deus cotidianamente.
Mas nem tudo é justo como deveria ser
Se nem para Cristo houve justa justiça
Por que Deus haveria de tê-la como premissa
A uma raça que criou e vai fazer morrer?
É por isso que creio a cada dia
No “cada um por si” para existir
Sem esquecer, porém, a utopia
De que um dia a humanidade se possa unir.
A união é necessária e improvável
Pois o egoísmo é mais forte
E desta maneira ao chegar a morte
A aceitaremos de modo irrefutável.
Portanto, Pai Nosso que estais no céu
Santificado seja o Vosso nome...
Enquanto te cobre este anilado véu
Aqui nos cobrem a miséria e a fome.
O Vosso Reino venha a nós
Seja feita a Vossa vontade...
Nos ver sofrer e lutar pela felicidade
E mesmo juntos sermos sempre sós.
Seremos sempre os mesmo em cada mundo
Vivendo em paz ou mesmo em guerra
Deus sempre nos olhará fundo
Tanto no céu como na terra.
Nos daí hoje o pão nosso de cada dia
Perdoai as nossas ofensas...
Mesmo que na dor ou na alegria
Nunca saibamos o que Pensas.
Como perdoamos a quem nos tem ofendido
Nunca nos deixeis cair em tentação...
Mesmo que em cada coração
Deixeis dúvidas sobre o objetivo pretendido.
Por fim, como tudo que existe
Mesmo que seja banal e não agrade ninguém
Pensai em todo filho triste
E livrai-nos do mal, amém!
Cícero – 10-01-99