Doce porre
O tempo passa
A hora voa
A vida perde a graça
O amor perde a coroa.
O sonho ilude
O coração acostuma
O sofrimento é grude
Envolvido em espessa bruma.
A angústia é fera
A hipocrisia é rainha
E a última quimera
É a incerteza minha.
A boca escarrada
E a mão que apedrejou
Foi também afagada
Com palavras doces pela boca que beijou.
Enfim nessa vida
Toda de duplicidade
Abriu-se uma ferida
Provocada pela felicidade.
A dor também morre
E tudo está na inércia absoluta
Viver é um doce porre
E por fim encerra-se a luta.
Cícero – 24-10-94