Trovão errante.
Ri certos pesares em pensamento doído.
Guardei as minhas tristezas no bolso
Com gotas de abismos lambuzadas,
na voz do horizonte arco-irisado.
Cambaleantes,
As respostas da noite alcançaram minha mocidade,
cujo brilho de rio não brota mais na nascente.
Navego mal nos meus sonhos com cheiro de chuva.
Rastreio soluços que a religião não ouve.
Eu me teço, anoiteço, amanheço,
para aquilo que não fui parido.
Me persegue a sombra errática do louco,
sobre o qual muitos gostam de infligir castigos.
Sinto na pele, o couro cru nos costados de meus ancestrais dos quilombos
e das senzalas.
Rasgo com o meu corpo a vida toda e despenco mundo afora.
Como a alma se cura dessa loucura que é a humana história?
Em tudo o que vejo e ouço há apenas uma metade,
Reverencio o que não alcanço,
O que me escapa, na neblina sem alarde.
Madrugada sem sono, garoa brilhante, cheiro de flores nos campos,
extremado de pirilampos,
Vento errante, o trovão rebenta o tranquilo sono dos passarinhos,
Os relâmpagos abrem sentidos no caminho,
Sei que amanhã aqui não estarei,
Em brasas, corre o silêncio sobre o telhado das casas.
A saudade colocou algemas para sempre,
no meu pensar quieto de albatrozes asas.
Quem não traça livre o seu caminho na maciez da pétala
e na ponta do espinho?
A vida e os seus vazios.
A travessia se repete na outra banda do rio,
Onde surpreso reencontro os meus passos no orvalho da tigresa, no cio.
Insisto em não arredar de mim o sombrio.
Enquanto o planeta dá seus giros,
eu deliro....