Trovão errante.

Ri certos pesares em pensamento doído.

Guardei as minhas tristezas no bolso

Com gotas de abismos lambuzadas,

na voz do horizonte arco-irisado.

Cambaleantes,

As respostas da noite alcançaram minha mocidade,

cujo brilho de rio não brota mais na nascente.

Navego mal nos meus sonhos com cheiro de chuva.

Rastreio soluços que a religião não ouve.

Eu me teço, anoiteço, amanheço,

para aquilo que não fui parido.

Me persegue a sombra errática do louco,

sobre o qual muitos gostam de infligir castigos.

Sinto na pele, o couro cru nos costados de meus ancestrais dos quilombos

e das senzalas.

Rasgo com o meu corpo a vida toda e despenco mundo afora.

Como a alma se cura dessa loucura que é a humana história?

Em tudo o que vejo e ouço há apenas uma metade,

Reverencio o que não alcanço,

O que me escapa, na neblina sem alarde.

Madrugada sem sono, garoa brilhante, cheiro de flores nos campos,

extremado de pirilampos,

Vento errante, o trovão rebenta o tranquilo sono dos passarinhos,

Os relâmpagos abrem sentidos no caminho,

Sei que amanhã aqui não estarei,

Em brasas, corre o silêncio sobre o telhado das casas.

A saudade colocou algemas para sempre,

no meu pensar quieto de albatrozes asas.

Quem não traça livre o seu caminho na maciez da pétala

e na ponta do espinho?

A vida e os seus vazios.

A travessia se repete na outra banda do rio,

Onde surpreso reencontro os meus passos no orvalho da tigresa, no cio.

Insisto em não arredar de mim o sombrio.

Enquanto o planeta dá seus giros,

eu deliro....

BARTHES
Enviado por BARTHES em 26/07/2015
Código do texto: T5324359
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