SERTÃO QUERIDO

Sertão de onde eu vim

A onde me criei

Lavrei a terra sagrada

Meu alimento plantei

Matei fome de muitos

Nem por isto me cansei.

No sertão eu fiz de tudo

Só não peguei no alheio

Por ter muita necessidade

Até a floresta derrubei

Plantei grãos preciosos

A minha fome matei.

No meu tempo era manual

Não havia mecanização

Era foice e enxada

E um machado bão

Um cutelo para colher arroz

Na cintura um facão.

No sertão a gente tem que se virar

Usar a criatividade simples

Para o mato não te pegar

Plantar sempre em época certa

A lavoura capinar, e é só pedir

Pra chover a colheita esperar.

Quando é tempo da seca

A gente começa cuidar

Roça capoeira fina

Palhada para queimar

Limpar a terra até agosto

Setembro começa plantar.

No sertão todos são poetas

Já vem de geração

Criança nasce sabendo

O poeta tem razão

Mobiliza seus instrumentos

De reco reco ao violão.

Dança pagode a noite inteira

Eles mesmos são tocadores

Dança velhos e dança moços

Também dança o vovô.

As moças não podem enjeitar

Se não vira um fervor.

Todos da região são conhecidos

As festas são um amor

A gente dança a noite inteira

Os pais ficam ao redor

Quando chega um desconhecido

Ai, meu Deus, que horror.

Isto são os espinhos da vida

O resto tudo é flor

No sertão ninguém adoece

Podem ter alguma dor

Um furadinha de espinho

Um cavalo empacador.

Sertão das roupas grossas

Feitas do puro algodão

Lá só gasta com sal

Não gasta com açúcar e pão

Todo consumo de lá

E feito com nossas mãos.

Sertão do carro de boi

Que canta como a cigarra

Na beira daquela vereda

Na poeira da estrada

Seu canto alegra o sertão

Deixa o carreiro sossegado.

Nosso bois são bem tratados

Não podem emagrecer

A safra é muita pesada

Tem muito para colher

Se não cuidarmos dos bois

A safra vai perder.

Nosso carro é muito bom

É feito de madeira forte

Tem a cheda caprichada

A mesa de bom porte

A esteira é muito bem feita

Fazemos nossos transportes.

Transportamos toda produção

No pescoço desses garrotes

Do milho à abóbora madura

Do porco gordo ao filhote

As vezes ainda reclamam

Meu Deus que sorte.

No sertão a gente aprecia

A noite enluarada

Arreia o seu cavalo

Bota ele na estrada

Vai na casa do pai da moça

Papeia com a namorada.

Ah, Meu sertão querido

Que um dia vou lá te ver

Trinta anos que te deixei

Razão não sei porquê

Lá eu tinha tudo

E deixei desmerecer.

Quando eu voltar para ti meu sertão

Nunca mais eu vou sair

Enjuei da cidade grande

Lugar difícil de morar

Se aqui ainda estou

É para meus filhos estudar

Sertão, no meu coração sempre está

Nunca me esqueci do meu pé de jatobá

Do meu velho carro de boi

Da minha boiada araçá

Meu carro canta alegre

Faz a poeira abaixar.

No sertão a gente já amanhece alegre

Tem história pra contar

Os pássaros acorda a gente

Só ouvimos, o chuá-chuá

Os cantos são tão bonitos

Que temos que apreciar

Nem só os pássaros trazem alegria

Tem muitas coisas bonitas por lá

Se eu escrever tudo

Não precisava contar

Sertão é vida pura

Sertão tem muito pra dar.

Ao terminar esses versos

Nem tudo pude contar

Não falei o que meu coração pensou

Depois eu vou te falar

Pensei e meditei bem

Não deixe sua mãe pra lá.

Matos