Luz

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"Em boa verdade,

o amor não é uma luz!..."

Alguém o terá dito

com o absoluto beneficio

de uma lucidez relativa.

E continuava assim:

"...Não é uma luz

pois que será, quando muito,

filamento de incandescência

terminalmente dependente

de energia específica

e só, de facto, eficaz

num ambiente de luminosidade

inferior à sua incandescência."

Temerário negar

que numa certa fase da vida,

nos meandros de algum pasmo

possa ter cometido o lapso

de menosprezar a origem

do que acabo de transcrever

e, no entanto, recordo

o exato momento

em que me chocou a ineficácia

da luz de um projetor

de uma brutalidade de walts

confrontado com o jorro de luz

desbragadamente solar

que irrompia pela janela

para o interior do meu quarto.

Confunde-me a ideia

de se vedar até figuradamente

a analogia do amor a uma luz;

Em simultâneo vai ganhando rugas

um pouco mais e a dentro

o desconcertante orgulho

de ser, de facto, alguém.

Mas, sim!, tudo passa,

em fuga ao quedar-se estéril,

por aquela margem de entulhos

em que vagueia inteira

esta minha perplexidade;

pois que não será ousadia

a ideia de confrontar

os milhões e milhões e milhões

de anos de luz viva do meu sol

com a inviável eternidade

de um filamento incandescente.

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________________________LuMe

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Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 18/05/2018
Código do texto: T6340034
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