Luz
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"Em boa verdade,
o amor não é uma luz!..."
Alguém o terá dito
com o absoluto beneficio
de uma lucidez relativa.
E continuava assim:
"...Não é uma luz
pois que será, quando muito,
filamento de incandescência
terminalmente dependente
de energia específica
e só, de facto, eficaz
num ambiente de luminosidade
inferior à sua incandescência."
Temerário negar
que numa certa fase da vida,
nos meandros de algum pasmo
possa ter cometido o lapso
de menosprezar a origem
do que acabo de transcrever
e, no entanto, recordo
o exato momento
em que me chocou a ineficácia
da luz de um projetor
de uma brutalidade de walts
confrontado com o jorro de luz
desbragadamente solar
que irrompia pela janela
para o interior do meu quarto.
Confunde-me a ideia
de se vedar até figuradamente
a analogia do amor a uma luz;
Em simultâneo vai ganhando rugas
um pouco mais e a dentro
o desconcertante orgulho
de ser, de facto, alguém.
Mas, sim!, tudo passa,
em fuga ao quedar-se estéril,
por aquela margem de entulhos
em que vagueia inteira
esta minha perplexidade;
pois que não será ousadia
a ideia de confrontar
os milhões e milhões e milhões
de anos de luz viva do meu sol
com a inviável eternidade
de um filamento incandescente.
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________________________LuMe
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