Peneirando.

Em seu trajeto pelo espaço

O Universo revolve

Abstrato e concreto

Enquanto tudo se move

O tempo muda as coisas de lugar

Ou modifica as que permanecem

Outono, as folhas caem

Primavera, outras crescem

Os raios de Sol e a água e outro ar

Renovando promessas

Os pássaros retornam de verões distantes

Percebem no primeiro instante

O viço da folhagem nova

Tudo até parece igual

Mas as flores recém-chegadas

Se postas à prova

e lhes fosse permitido algo dizer

descreveriam essa euforia de reencontro

Como sendo-lhes algo estranho e sem sentido

Pois, a olhar para os mesmos pássaros

À elas, não significa nada

Simplesmente não os reconhecem.

Pois é na sutileza inconteste

do jeito que as coisas são

Que se esconde

a pureza do conhecimento

Ter vivido a vida

momento a momento

No mais, tudo é sofisma

É luz enganosa

Que se decompõe

Sob o prisma do menor confronto

Universo em documento

Eternamente pronto e aberto

Peneirando eternamente

Não se dobra a nenhuma vaidade

Consolidando a verdade

O resto é coisa que voa ao vento

Bastaria pra nós

O gesto de simples pensamento

Mas a mera simplicidade

É coisa que há muito tempo

Foi relegada à espera,

Perdida

em meio a tantos outros compromissos

Na esfera do esquecimento ela aguarda

Enquanto bem poucos aprendem

Que precisamos de menos disso

Mas ao mesmo tempo

Um pouco mais que isso.

Edson Ricardo Paiva.