NAQUELA MANHÃ

O meu olhar aponta,
Para as crianças,
Que projetam nuanças,
Brincam na calçada,
Harmonia realçada,
Sem o dever de prestarem contas.
Amo essa fonte,
De irresponsável inocência,
Essa lúdica transcendência,
Inaugurando horizontes.
Prazer em vê-las, sinto,
Livres do labirinto,
Que na vida adulta vigora,
Livres das ilusões, dos senões,
Das solidões, das interrogações,
Que tecem o meu agora.
O meu olhar solitário,
Recusa-se a mudar de cenário,
Os lampejos de felicidade,
Misturam-se com a vontade,
De sair de mim,
Renegar o homem que sou,
Ser mais um curumim,
Naquela manhã,
Naquele ambiente,
Totalmente encantado.
Passageiro afã,
Retomo o meu desalinho,
O meu insustentável estado,
O meu olhar reticente,
Sigo o enviesado caminho,
Pois, meu tempo inócuo, já passou...