[ sem título #26 ]

I.

este é tempo de capital.

tempo de homens,

ante uma

pandemia,

a pensar

o capital

— porque a necessidade

do povo,

faz-se lucro

de outro[s].

II.

atravessando

as ruas da cidade,

eu & a minha mãe

& o motorista

de aplicativo;

atravessando

a cidade,

onde as casas,

com suas portas

e janelas, são quase

fechadas

— porque o frio,

porque o vírus;

e a Caixa,

aglomerada de gente

— a fazer curva —

por conta do auxílio;

o saque, o problema de saque,

a tentativa de saque,

a esperança de saque:

esperando,

sem distanciamento,

enquanto o frio,

enquanto o vírus,

enquanto as contas,

enquanto a possível fome

& o possível desespero:

porque

se precisa de auxílio,

porque

precisamos de ajuda.

III.

inda mais cedo,

vi um homem

a limpar

para-brisas

— sem máscara —

num gesto,

decerto,

de adquirir dinheiro:

para seu café

da manhã?

seu almoço?

sua janta?

IV.

o sinais

se abrem

& se fecham.

os sinais

se abriam

& se fechavam.

V.

y o homem, lá, a trabalhar

sem proteção

numa manhã fria,

porque a política, é antes,

o próprio bolso,

e não

a condição

de seu povo.

VI.

se estas paredes

brancas

& portas

brancas

& copos

brancos

& pisos

brancos

& luzes

brancas

dissessem

a / alguma

esperança...

talvez a realidade

não fosse

não nos fosse

não me fosse

tanta.