Eis -me aqui

Não quero vestir o mundo de fé,
nem tampouco buscar na fonte
a água que há de saciar a sede.
Não quero ser o chicote,
nem a mão acusadora,
nem tampouco almejo
colar a boca em um qualquer beijo,
pelo simples fato do perdão,
de ser da vida a vida que se vive.
Quero sim, frustrar a morte.
Não quero que ela aconteça.
Passageiro de uma manhã,
quem sabe, vagão de qualquer tarde
ou mesmo um poema que chega à noite,
lido e relido pela madrugada.
Não, esta escolha é minha,
direitos adquiridos nos cartórios,
nos balcões dos momentos tão ilusórios.
Serei mais um poema relido,
quantas e quantas vezes forem,
talvez necessárias, para ser entendido.
Assim, sei que um dia,
por descuido lembrado,
passearei em olhos, aflorarei em bocas,
não em beijos,
muito menos em gracejos,
quem sabe, envaidecido
pela imensa saudade que há de vir.
Não quero vestir o mundo de fé.
Não posso nem fazer minha própria,
única indumentária
de ser, viver como cristão.